Aos 3 anos, Trishna Shakya não tem ideia de como sua vida vai mudar. Ela acaba de ser escolhida como a nova Kumari, a deusa-viva do Nepal, uma reencarnação da deusa hindu Taleju. Junto com outras candidatas, Trishna teve que enfrentar 21 dias de um processo de seleção que incluiu provas terríveis, como passar a noite em meio a cabeças decepadas de cabras e búfalos. Depois da cerimônia de apresentação, na quinta-feira dia 28, ela foi separada da família para viver num palácio. A palavra “kumari” deriva do sânscrito “kaumarya”, que significa “princesa”.
Para ser escolhida Kumari, meninas devem responder ao critério das “32 perfeições”, que incluem ter um corpo como o de uma árvore de figueira-de-bengala, cílios como os de uma vaca e uma voz suave e clara como a de um pato (os nepaleses devem ter algum tipo de audição diferenciada. Ou os patos de lá não berram como os de cá…).
Uma vez escolhida, a Kumari recolhe-se à residência palaciana, de onde só é autorizada a sair 13 vezes por ano, durante festivais, quando é carregada pelas ruas de Katmandu e reverenciada por hindus e budistas. Para que permaneça sempre pura, a Kumari nunca pode colocar os pés no chão.
A antiga Kumari deixou o palácio tão logo Trishna entrou. Aos 12 anos, ela teve seu primeiro ciclo menstrual e foi deposta da posição. Apesar das críticas de grupos de ativistas em defesa do direito das crianças, a tradição milenar continuou mesmo depois do fim da monarquia nepalesa hindu em 2008. Naquele mesmo ano, a Suprema Corte do país ordenou que as Kumaris recebam uma educação formal no palácio e possam prestar provas.